Inebriações

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

XVI

Cheguei,
depois de uma longa queda, 
ao fundo do poço.
Aqui não há ninguém.
Ninguém ouve meus gritos.
A saudade me dói, mas o que mais
me corrói é o sentimento de arrependimento.
Sentimento esse que nunca havia sentido, sempre
abominei ele.
Agora, ele me atormenta e o sono já não me vem.
Ultrapassei o limite da minha própria razão,
e hoje sou um monstro. 
Sou indigno de respeito, de amor, e carinho.
Que vergonha...  

domingo, 22 de abril de 2012

Ensaio da Constância Emocional - Parte I

Toda hipótese de equilíbrio emocional em um diálogo/relação é uma representação eventual conveniente para obter uma determinada ambientização partidária ao interesse primário de um ou mais indivíduos no produto final de uma situação. Não existe nenhuma espécie de emoção constante, elas se interpolam de acordo com a circunstância, sempre em estado extremo, ora controlável ou não.  Esse “domínio” (retensão) do sentimento pode ocasionar uma frustrante sobrecarga emocional, que consequentemente em algum momento irá se descarregar abruptamente no formato de outra emoção qualquer sem governo algum, nesse caso a emoção se exibe na sua figura mais bucólica, despontando o até então segredado interesse primário do(s) indivíduo(s) e provocando a fortificação ou, como a maioria dos casos, o rompimento do diálogo/relação em tono.
A tolerância do espectador do distúrbio emocional do individuo descontrolado é um ponto importantíssimo no processo de fortificação/rompimento, além da indução exercida sobre ele pelo descontrolado, que o expõe ao mesmo procedimento de descontrole emocional quase que inevitável, é justamente a maneira como o descontrole alheio será absorvido que ditará o produto final do diálogo/relação, equivalente ao seu nível tolerante. A fortificação acontece quando o individuo controlado tolera o “peso” das expressões articuladas pelo descontrolado, aumentando a afinidade.
O aumento da constância dessas “detonações emocionais” desenvolve, no caso de rompimento, o personalismo, egotismo e altivez, logo a importância da socialização se torna frívola e fraca. O desenvolvimento dessas propriedades, por sua vez, gera senão o desejo pelo isolamento, o isolamento por decorrência, a impudência discursiva, apatia e desprezo pelo diálogo, opinião e crítica alheia. 

terça-feira, 17 de abril de 2012

XV

Por meio da cândida pureza dermal da novidade

Conheci a liberdade.

O êxtase e a dor vieram a mim

Numa noite quente e filosófica.

E a vida, não mais filosofada,

Pareceu ganhar algum sentido,

Senão mais questões ao menos.

E independente do acarretamento vindado,

Não pensem que me encontro em tristeza,

Diria que em conflito, conflito é a palavra ideal,

E também é o estopim para o despertar

De uma alma confinada ao tédio.

Estarei agora na paz ou no inferno de meus dias?

Ficarei esperando meus pecados virem me atormentar à noite?

Não, não ficarei, pois mesmo parado eu peco,

Então para que o comodismo?

Libertei-me da vaidade do Amor,

E ele já não é constante em minha vida.

A abstinência é dura, mas me alivio com outras drogas.

terça-feira, 6 de março de 2012

XIV

Repeti até que consegui me convencer

Que o amor, o tão amado amor,

É um sentimento comum.

Não se ama a todo

Momento.

Muito menos se recebe amor a todo

Momento.

Momentos...

Em alguns, temos amor.

Assim como a tristeza, alegria, raiva, êxtase, ódio.

Momentâneos.

O amor também o é.

Se você não vê a realidade

Como ela realmente é

Então você ama algo ou alguém!

Mas como saber, não é mesmo?

É mais fácil saber que você amou

Do que saber que você ama.

O homem tende a mudar tudo que

Pretende amar.

Assim que o ser amado não suporta mais

Permanecer em sua forma adaptada,

A pretensão amável rompe-se desse

Sentimento inconstante,

Já que era momentâneo.

O amor já não pertence ao ser

que se libertou do invólucro

Do ser que o amava.

Esse último tem certeza que amou,

Mas a beleza já não está ali.

O amor é nômade,

Como os primeiros homens.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

XIII

Quando eu era moleque, e saía pela mata afora,

Eles me vieram pra cessar minha fogueira,

Fazendo levantar poeira:

O dia nasce e morre

A ressaca vem depois do porre

Não há nada mais que te assole

Que te deixe mais pobre

Que é quando você descobre

Que nada pode,

Fazer.

Pois levante seu traseiro magro

Desse mato

Que parado

O gato

Não caça o rato

Nem se voa

Sem asas bater.

Vá à Árvore dos Desalmados

Coma o fruto que só dá de noite

Nunca mais nessa vida murcha

Sofrerás

Nem mais um açoite.

XII

Sem ter hora pra chegar,

Sem parecer se preocupar com isso,

Ele ou ela, não sabia bem o artigo a ser usado para esse animalzinho,

Que vem todo o santo dia e até nos dias que não são santos,

Está lá, em minhas flores.

Vem com calma e passa de uma a uma,

Beijando e, algumas vezes, até parece copular com elas.

Com toda liberdade que não se contém naquele pequeno peito, ainda assim é fiel a elas.

Púrpuras em sua doce seiva que atrai até o mais discreto dos beijos.

Estando perplexas ficam vulneráveis a esses assédios.

Na morte, porém, já não tão belas, caem,

Mas não sem receber o sugar do seu fiel beijador.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

XI

O que vem bem a calhar?

Não, nada vem.

Todas as verdades não vêm.

Não que as mentiras venham.

É que nada vem mesmo,

E o nada incomoda.

O silêncio incomoda,

O diferente incomoda,

O feio incomoda,

O choro incomoda

E o amor também incomoda.

E o que vem bem a calhar?

Nada!

Só o nada!

Falem bem ou falem mal,

Mas falem dos outros!

Pois estou farto desse incomodismo!

Modismo de se rebelar sem causa alguma.

O tudo, o barulho, o igual, o bonito, o sorriso e o amor,

Todos generalizados.

Agora a censura é ditada pelo

“Politicamente, Socialmente, Religiosamente, Sexualmente, Virtualmente,

...mente, ...mente, ...mente

Correto.

E o que vem bem a calhar?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

X

Marie Farrar, nascida em abril, menor
De idade, raquítica, sem sinais, órfã

Até agora sem antecedentes, afirma

Ter matado uma criança, da seguinte maneira:

Diz que, com dois meses de gravidez

Visitou uma mulher num subsolo

E recebeu, para abortar, uma injeção

Que em nada adiantou, embora doesse.

Os senhores, por favor, não fiquem indignados.

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.

Ela porém, diz, não deixou de pagar
O combinado, e passou a usar uma cinta

E bebeu álcool, colocou pimenta dentro

Mas só fez vomitar e expelir

Sua barriga aumentava a olhos vistos

E também doía, por exemplo, ao lavar pratos.

E ela mesma, diz, ainda não terminara de crescer.

Rezava à Virgem Maria, a esperança não perdia.

Os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.

Mas as rezas foram de pouca ajuda, ao que parece.
Havia pedido muito.

Com o corpo já maior

Desmaiava na Missa. Várias vezes suou

Suor frio, ajoelhada diante do altar.

Mas manteve seu estado em segredo

Até a hora do nascimento.

Havia dado certo, pois ninguém acreditava

Que ela, tão pouco atraente, caísse em tentação.

Mas os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.

Nesse dia, diz ela, de manhã cedo
Ao lavar a escada, sentiu como se

Lhe arranhassem as entranhas. Estremeceu.

Conseguiu no entanto esconder a dor.

Durante o dia, pendurando a roupa lavada

Quebrou a cabeça pensando: percebeu angustiada

Que iria dar à luz, sentindo então

O coração pesado.

Era tarde quando se retirou.
Mas os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.

Mas foi chamada ainda uma vez, após se deitar:
Havia caído mais neve, ela teve que limpar.

Isso até a meia-noite. Foi um dia longo.

Somente de madrugada ela foi parir em paz.

E teve, como diz, um filho homem.

Um filho como tantos outros filhos.

Uma mãe como as outras ela não era, porém

E não podemos desprezá-la por isso.

Mas os senhores, por favor, não fiquem indignados.

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.

Vamos deixá-la então acabar
De contar o que aconteceu ao filho (Diz que nada deseja esconder)
Para que se veja como sou eu, como e você.

Havia acabado de se deitar, diz, quando

Sentiu náuseas. Sozinha

Sem saber o que viria

Com esforço calou seus gritos.

E os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos precisamos de ajuda, coitados.

Com as últimas forças, diz ela
Pois seu quarto estava muito frio

Arrastou-se até o sanitário, e lá (já não sabe quando) deu à luz sem cerimônia

Lá pelo nascer do sol. Agora, diz ela

Estava inteiramente perturbada, e já com o corpo

Meio enrijecido, mal podia segurar a criança

Porque caía neve naquele sanitário dos serventes.

Os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.

Então, entre o quarto e o sanitário diz que
Até então não havia acontecido a criança começou

A chorar, o que a irritou tanto, diz, que

Com ambos os punhos, cegamente, sem parar

Bateu nela até que se calasse, diz ela.

Levou em seguida o corpo da criança

Para sua cama, pelo resto da noite

E de manhã escondeu-o na lavanderia.

Os senhores, por favor, não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.

Marie Farrar, nascida em abril
Falecida na prisão de Meissen

Mãe solteira, condenada, pode lhes mostrar

A fragilidade de toda criatura. Vocês
Que dão à luz entre lençóis limpos

E chamam de abençoada sua gravidez

Não amaldiçoem os fracos e rejeitados, pois

Se o seu pecado foi grave, o sofrimento é grande.

Por isso lhes peço que não fiquem indignados

Pois todos nós precisamos de ajuda, coitados.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

IX

Num estado pleno de curiosidade, ansiedade,

Sem saber como vou lidar com a situação,

Sem saber como lidar com o mais antigo dos sonhos

Que eu sonhei.

Sonhei...

Sonhei...

E sonhei em circunstâncias adversas, doentes e desesperadoras

Vários sonhos,

Vários sonhos...

Sonhados na noite, na boemia, no amor idealizado de uma bela mulher,

Sonhados na embriaguez, na música, na própria liberdade...

Mas esse foi o primeiro de todos os sonhos que me fez sonhar os outros,

Que me fez passar por todas as circunstâncias,

Inclusive, para que ele fosse realizado, pela boemia.

Estou prestes a passar por um momento único,

Assim como poucos que uma pessoa passa pelo decorrer da vida.

Um momento em que o tempo parará e rodará em meu redor.

O momento em que eu segurar o meu sonho nos braços e disser:

Eu sou pai.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

VIII

Quanto é presiso subir para se ter uma boa queda?
Até quando você vai pagar por esse alguém?
Vai, veste aquele vestidinho que eu te dei,
Que hoje meu bem, te levarei
Pra tomar sorvete de maracujá.
Quem sabe assim
Você levite sobre minha cabeça, desapareça...
Não, não é tão fácil assim...
Faço careta pra você ficar aí.
Me engano em pensar que vai permanecer...
E aparecer...
Talvez num mundo muito longe daqui,
De tanto subir, subir e subir, você caia nu
No esquecimento e não perturbe mais
Meu ócio.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

VII

O pop é podre e o underground agora é cult, não se faz músicos, atores, nem poetas,
só dinheiro.
E como viver sem ele? Como morrer sem ele?
Se você não tem grana, não pode comprar um buraco para ser enterrado.
Se você não tem grana, nem pense em se suicidar, falo isso pois,
hoje é moda se suicidar, é chique, mas nenhum desses rebeldinhos sem causa pensa que há um custo para isso acontecer.
Cultura jovem...Que bonito!
Hoje, ensinamos ao futuro do país que é bonito e saudável
fazer passeatas mostrando seu sexo
e vestindo esculturas religiosas com lingerie,
e que essa é uma das melhores e mais sérias formas de lutar
pelos Direitos Humanos.
Não seja contra essas idéias, não seja preconceituoso!
Nem pense! Isso é crime!
A indulgência voltou a tona, com seu novo projeto capitalista,
e hoje, você já pode adquirir sua mansão celestial pelo baixíssimo
valor de 10% do seu salário mensal até o fim de seus dias na Terra, quando,
sem a certeza de nada e sem a devolução do seu dinheiro,
você poderá usufluir do seu aconchego no além,
com querubins tocando "Então é Natal" da Simone!
!ETERNAMENTE!
Para participar dessa super promoção, basta fazer o depósito na conta bancária
da igreja mais próxima de você!
Obs.: É de suma importância o arrependimento de seus pecados no momento do depósito.
Não dá pra fugir da onda, ou se aprende a nadar ou se afoga nesse mar de M!@#$%
Ops! Não posso falar palavrão!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

VI

Amor não é uma coisa que te tira do chão e te transporta para lugares onde você nunca esteve
O nome disso é avião
Amor não é aquela coisa que tira sua respiração e sua fala e te deixa totalmente sem ar
O nome disso é asma!

Amor não é uma coisa que te ilumina no escuro, te leva até as estrelas, te traz de volta e desaparece sem deixar vestígios
O nome disso é abdução
Amor não é uma coisa que te pega de surpresa, te transforma em refém e toma de assalto tudo o que você tem
O nome disso é ladrão!

Amor não é uma coisa que te embrulha o estômago e deixa marcas por onde passa
O nome disso é diarréia
Amor não é uma coisa que você guarda lá dentro e não deixa ninguém tocar e nem ver
O nome disso: vibrador!

Amor não é uma coisa que chega sorrateira e pula o muro quando o dia amanhece
O nome disso é gato
Amor não é algo que foi perdido e quando é reencontrado pode mudar tudo o que está a sua frente
O nome disso: controle remoto!

Amor não é paixão
Paixão não é felicidade
Felicidade não é grana
Grana não é fama
Fama não é alegria
Alegria não é amizade
Amizade não é amor
Porque amor é outra coisa.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

V

Há certas coisas que os velhos dizem ou diziam,
que, por mais que tentemos fugir ou esquivar para
que não aconteçam, acontecem. É fato.
E se ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais
é porque, nessa via de dúvidas que é a vida,
que não vem com manual de instruções,
os velhos ditados imperam como primeira opção
para solucionar alguma situação, principalmente
se essa lhe é familiar.
Admitindo ou negando,
tudo remete ao seu arquivo-morto.

IV

Uma centelha do tempo em que você consegue contemplar seu conteúdo e deduzir palavra para defini-lo.

São as horas na Poesia.

O que é para mim não é para você.

É o egoísmo na Poesia.

Não é verdade absoluta, mas a relativa.

É a ciência na Poesia.

O vazio no cheio e o cheio no vazio.

A Poesia não é só e tudo isso.

É para mim e para você.

Definição de expressão,

De sentimento,

É a fuga,

O refúgio,

O dizer da alma inebriada

E entorpecida

De algum desejo.

terça-feira, 26 de julho de 2011

III

Escrevo novamente depois de 767 dias em recesso, e devo confessar que me sinto um tanto enferrujado...

Muita coisa, aconteceu nesse tempo, algumas coisas mudaram como meu estado civil, que agora é casado, meu trabalho mudou,minha casa mudou, meu cachorro mudou, entre outras e várias coisas que mudaram temo que ainda sou o mesmo “véio” ranzinza de sempre.

Agora, no quinto mês de gestação de minha esposa, a ansiedade toma conta dos meus dias, acho que é uma boa hora para recomeçar a escrever.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

II

Deitei aqui mesmo,
Não fiz questão,
No frio deve - se aprender alguma coisa.
Pelo menos gostar dele, de mim...
E de você... de você prefiro...
Desaprender algo.
À saber o bastante de nada o tudo te surpreende.
No meu caso, me deu uma rasteira.
O Tudo...
O seu Tudo...
Me fez assim, aqui.
Uma garoa me faz companhia agora.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

I

Sente-se, pois virá o inviável de se ver.
E um pouco há de doer.
E se a dor vir a ser prazer,
Um grito então se ouvirá!

Você pedirá mais, mas não vai receber.
E muito há de doer.
E corroer todo seu corpo.
Sem sentir aquele gozo tão intenso,
Um grito então se ouvirá!

Vagando vai...
Cortando a própria mente vai,
Com tudo e todos a correr.

Sabe-se lá...
Quem vai saber?
Se vai chegar até aqui.